Um ano. Exatamente um ano havia se passado desde aquela noite. A noite mais terrível da vida de Lisa. Mas agora ela não queria se lembrar da parte ruim.
Envolta em um vestido negro de estilo renascentista, com os cabelos negros soltos contrastando com sua pálida pele de porcelana e a boca carmim, Lisa se encontrava com as mãos apoiadas na janela, olhando para a chuva, sozinha em sua sala de estar. Chuva. Exatamente como naquela noite.
Ah, aquela noite ... Depois do que aconteceu, a vida de Lisa nunca mais foi a mesma. Sua face estava mais pálida com o passar do tempo, sua cor se esvaindo junto aos dias, assim como sua disposição. Nenhuma vontade de tomar chá com as amigas, o que antes lhe apreciava tanto, mas depois não passou a causar prazer algum a ela, que se isolou cada vez mais só no mundo. Um mundo que agora era apenas dela. Dela e da escuridão.
Enquanto a chuva caía, o relógio da sala de estar tocou. Uma, duas, doze badaladas. Lisa fechou os olhos e suspirou. Ela só esperava que ele viesse...
Como se estivessem ouvindo seus pensamentos, os grilos se calaram e o único barulho que Lisa pode ouvir, foi o estalar da lenha em brasa , queimando no fogo da lareira. E sua intuição lhe disse que talvez esse fosse um sinal de que ele pudesse estar por perto.
E ela torcia para que estivesse certa.
Sorrateiro e leve como a brisa da noite, ele chegou. Ela não o ouviu se aproximar e nem viu quando seu reflexo na janela molhada, pois ainda estava de olhos fechados. Mas quando ele envolveu sua cintura com suas mãos quentes e calorosas, ela sorriu.
Ele estava lá. Seu Dimitri.
Ela abriu os olhos e se virou para olhá-lo. Como ele estava lindo! Os cabelos castanhos desgrenhados e os olhos verdes e escuros como a grama sem o sol. A pele estava pálida, tão pálida... até mais do que a dela. “ O que te aconteceu meu amor?” Ela teve vontade de perguntar. Mas ela sabia o que havia acontecido.
Dimitri colocou os dedos em seus lábios, como se quisesse impedi-la de pensar em algo ruim,olhando em seus olhos e dizendo em sussurro, “Não tenha medo”. Lisa desviou os olhos quando uma música começou a tocar. Tantas lembranças de noites maravilhosas lhe vieram a mente... Ele sorriu quando ela voltou a olhar em seus olhos. Estava tudo bem agora. Ela não tinha medo. Nunca teria medo de seu Dimitri. Então suas mãos se tocaram, branco sobre branco, tão pálidas... e ele a levou para dançar.
Lisa girava e girava, a risos soltos e sorria como a muito não fazia. Que saudade havia sentido de seu amado! Há quanto tempo não era envolvida por seus braços!
Todos os medos e frustrações foram dissolvidos naquele momento, no momento em que Dimitri a abraçou e a tomou para si, roubando-lhe um beijo, como um ladrão que rouba a rosa só para sentir seu cheiro doce e olhar para sua cor carmim outra vez, por mais tempo. Oh, Como ele queria aquela rosa só para si! Como queria se sentir impregnado com seu cheiro e com seu amor!
Mas ele sabia que não podia. Seu tempo estava acabando e logo ele teria que partir para sempre. E nunca mais veria sua Lisa. Sua doce Lisa.
E ela soube que ele iria, no momento em que o relógio soou novamente. “Não”, ela disse baixinho. Ele pegou sua mão pela última vez. “Eu te amo” ele disse, antes de desaparecer.
Lisa olhou pela janela outra vez. A chuva ainda caía, e os grilos voltaram a fazer sua serenata para a lua. Lisa chorou. Suas lágrimas escorriam por sua face, assim como a chuva pela janela. Exatamente como naquela noite. Na noite em que seu Dimitri foi levado. Na noite em que a carruagem dele caiu pelo despenhadeiro, descontrolada pela chuva forte. Na noite em que a morte tomou parte de seu coração e levou embora para sempre. E Lisa ficou sozinha, como estava agora. Sozinha, olhando a chuva cair, sabendo que seu amado nunca mais iria voltar e toma-la em seus braços. E a única lembrança, o último vestígio que ele havia deixado para trás, se encontrava agora, nas pálidas mãos de Lisa.
Uma rosa carmim.
E então? O que acharam do meu conto de Halloween ? Comentem!
FELIZ DIA DAS BRUXAS!
